quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal de Um Dia

Não creio no Natal de um dia!
Não creio num dia feito de rituais
que se segue a outros tantos iguais
e precede a muitos que se seguirão!
Adornos, enfeites, árvores, luzes, presépios sem leitura, riqueza de fartura...
Ajuntamento de pessoas com pretexto, contrapondo dias infindos de desunião.
Presentes embrulhados em hipocrisia e desembrulhados com o gosto de tal amargura!
Trazem laços labirínticos com pontas de tantas direcções e perdições!
Presentes corrompidos por obrigação, sem ponta de emoção!
Amor com dia marcado, amor quantificado em escalas de valor material
e aos setes ventos apregoado, como se fosse mensurável!
Dia de troca de afectos fingidos, sem fuga possível!
Não creio neste dia de almas vazias que ao mundo se anunciam sensíveis,
de corações cerrados que de outrem se compadecem,
que descongelam com prazo marcado as emoções!
Amor sem franqueza, amor com decorações!
Creio no Natal de um qualquer dia,
de todos os que anoitecem e amanhecem!
Creio nos dias transparentes de sensações, livre nos sentires,
de amor sem aprisionamento, só por sentimento!
Creio nos dias de amizades declaradas, anunciadas,
sem condicionantes, sem constrangimentos, sem temores de dizeres!
Creio na integridade dos presentes de Natal de duração anual,
sempre a renascer, a crescer...
Creio na honestidade das palavras simples que da alma emanam!
Presenteadas, tesouros são guardados e enriquecidos no coração.
Não carecem de adornos e enfeites e encobrimentos e fingimentos!
Creio no chão que as acolhe que de fértil ergue e reconstrói seres humanos em todos os momentos.
Creio na singeleza do presépio, na despretensão dos seres humanos em todos os tempos,
no encantamento da vida que exalta sem hesitação, no amor sem condição!
Não creio neste dia marcado no calendário por imposição!
Não creio no Natal de um dia!
Creio nos dias em que o Homem celebra e faz acontecer a magia de só dia!
Creio neste Natal sem pretensão, sem ocasião!

Graciete Belo Maciel

domingo, 20 de dezembro de 2009

Amor por Primeiro...


Se tivesse por inteiro o meu amor por primeiro...
Ah! Minha sombra companheira permanente!...
Meu eco do teu ser gravado na mente!...
Minha solidão escoltada por ti!...
Meu silêncio findado a escutar-te!...
Meu reflexo espelhado em cristalinas emoções!...
Meu eu a transparecer em ti por todas as razões!...

Meu eu em ti...teu eu em mim!
Nós em uníssono com a mesma voz!

Se por inteiro neste amor estivéssemos...
Seria a nossa justa e única perdição!
Toda a loucura e toda a pressa do prazer seriam alcançadas,
galgando sem qualquer perdão vãs fúrias eriçadas!
E em vagas gigantescas e certeiras que assolam o coração,
encharcava-o para todo o sempre da brisa da paixão,
deixando as marcas de tão grande inundação!

E se o amor por primeiro fosse contentamento?
Não se avistariam nevoeiros escondidos e acalentados,
neblinas em tristeza esquecidas, adormecidas,
envoltas em raios de sol de tão de pequeno comprimento de onda, propositadamente!
Só para se ofuscarem e a outrem, apenas!
Não são aprovados pelos olhares mais desvelados!
É nesta mistura que as enxurradas arrastam penedos aguçados e revoltados!
Tempos de calmaria com tanta ira, eternamente!

E se o amor por primeiro fosse um mandamento?
Deus meu a ti me confesso!
Perdidos se vêem pecados nas águas a boiar!
No fundo do mar encontrareis o verdadeiro amar!
Neste mar constantemente condenado à ondulação,
vereis dois seres alheios perdidos em si!
Somos nós, Deus meu!

Se o amor por primeiro fosse inteiro,
seria nosso em primeiro!

Graciete Belo Maciel

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Há quanto tempo...


Há quanto tempo...
meu corpo adormecido e minha mente entorpecida,
arrastando se foram nos dias que de iguais apenas passavam,
perdidos, deambulando nas longas e dolorosas noites gélidas sem fim, sucessivas!
Meus braços sem amarras presos ficaram
e enregelados se quedaram!
Em quimeras se atrofiaram!

Há quanto tempo...
Já esqueci o sol da emoção,
as noites mais longas de todas as noites,
o dia emergindo das tonalidade quentes que se fundem, sem pressa,
embalado pela nocturna felicidade de tamanha satisfação!
Já esqueci a magia de todos os recantos encantados,
o tempo que não acaba, sem hora marcada,
esquecido no anómalo prazer e rubor
dos corpos emaranhados no amor!

Há quanto tempo...
Que meu alento diluindo se foi na escuridão
e alastrando-se, invadiu meu corpo, minha mente, impiedosamente!
E meus gritos mudos e abafados,
tristes desígnios prolongados no tempo,
escutaram e seguiram todos os passos da alma, escrupulosamente.
Todos em vão, todos sem qualquer perdão!
A alma bradava no silêncio, palavras caladas, cansadas,
a ela chegando outras tantas sem retorno, repetidamente.
Incúrias!
E indagava na certeza o que não queria por certo, sem remissão.
Injúrias!

Há quanto tempo...
Que só creio em utopias que meu mar de ilha me ensina!
Linhas ilusórias que traça, perfeitas,
eleitas em mantos de oiro entendidos em outros tantos de prata,
jazidas emersas de brilhantes em bruto lapidados,
que adornam corpos puros, de tudo despidos,
ladeados por ondas que sem culpa formada neste mar se formam!

Há quanto tempo...
Vi meus amores duradoiros, em momentos,
volveram em correntes tortuosas, em tormentos,
e sem culpa formada serem afundados!
Vi meus amores serem incinerados,
reduzidos a cinzas e enterrados!
Como todos os amores...com igual fim!
-
Graciete Belo Maciel

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O mar e eu

Estou serena.
Vejo visivelmente o que sinto na grandiosidade e na transparência da água do mar.
Somos nós dois sós!
Eu com sentimentos e tu com imagens nunca vistas, em momentos tão íntimos e cúmplices.
Vejo o teu horizonte tão bem definido, fazendo-me crer que do teu fim se trata. Mas eu sei que para além dele estás!
E a minha visão em ti concentrada, apercebe-se que conquistas as rochas que tocas e que amorosamente as beijas e não as deixas.
Não és duro, nem estático como elas!
Nem atraiçoas como as pedras que parecendo sólidas e firmes, tombam em instantes, arrastando pesos dolorosos!
É lá bem distante, onde fica o teu horizonte feito real de ilusão e feito imaginário de sonhos que nunca a ti chegaram, o céu, acima do teu limite ilimitado, vem até mim silenciosamente, e aos dois nos envolve. Qual abraço de aconchego e entendimento!
Não tenho amante como tu, que sinta o que sinto, no mesmo instante, e que fique tanto tempo a revelar-se, sem nada temer, sem nada pensar, sem nada pedir, sem nada querer.
Só tu, tão-somente a viver o tempo que acontece e que passa e que nunca será igual!
E tu bem sabes que os instantes nunca se repetem!
Quem já te viu a retratares-te de igual?
Denuncio-me ao fixar-te e ao percorrer-te na ânsia de encontrar o teu interior, de perceber de onde vêm tantas cores e tantos brilhos.
Identificas-te de azul, mas encontro vermelho, lilás, amarelo, laranja, castanho, verde, turquesa...e metalizas-te de prata, oiro, bronze, cobre...
E quantas as nuances mescladas a fundirem-se umas nas outras, sem que ninguém, ao primeiro olhar, as distinga?
Quanta simplicidade ao assumires-te, apenas, de azul!
E nunca és indiferente ao que te rodeia, porque estou precisamente a observar a partilha que com o sol poente fazes. Mais belo ficas!
Embora tenhas permanecido tão pouco tempo com ele, porque já não mostras as cores quentes e alegres que tinhas, espelhas um azul empalidecido, serenamente.
Contudo, ficaste mais majestoso, mesmo depois de teres ficado só!
Quão bem sabes enriquecer-te ao absorveres e reflectires o que de dentro de ti te aflui naturalmente!
E aí te quedaste, feliz!
Para quê não mostrares os teus reflexos, os teus brilhos, o segredo da mistura das tuas cores, os movimentos que impulsionas quando com o vento te encontras, as diferenças que te marcam?
Tu tens a sábia arte de tão bem saber que só te aprecia e enaltece quem para ti sabe olhar e demoradamente parar.
E continuas, descansadamente, assim...
Sem te preocupares se amanhã terás ou não o que tivestes, se sentirás ou não o que sentiste...
Estás tranquilo e calmo, porque sabes que serás sempre o mesmo, hoje, amanhã e depois...
Já não te vejo!
Mas sei que se para perto de ti for, tu lá estás. Irás sempre receber-me.
Quanto contentamento dás a quem te quer!
É a simplicidade a fazer-se grandeza e a grandeza da simplicidade a acontecer!
E isto vê-se quando reflectes as imagens que te ti saem!

domingo, 8 de novembro de 2009

O meu mar

Quando o olhar se prolonga no infinito saído da ilha, fundindo o que a vista alcança com o olhar da imaginação!
Quando o deslumbramento intrínseco da ilha suavemente nos encaminha para olhares mais diferenciados e ricos - os pormenores!
Quando a visão é repentinamente forçada a reter um instante, e único, surgido da força que a fez ilha ou que a faz ser ilha!
Quando o espaço delimitado da ilha nos impulsiona a olhares intimistas, circunscritos a zonas interditas à visão!
Surgem pinceladas de olhares, assim…



Graciete Belo Maciel

O nosso mundo...

O nosso mundo não tem limites!
Não tem paredes, nem tecto,
nem espaço, nem tempo!
Mas tudo lá cabe!
Cabem as certezas do querer,
as lágrimas - as nossas - a dois tidas, a dois sentidas,
carregando a prolongada e árdua dor do não poder.
Tem a alma por inteiro, a lonjura por primeiro!
E a alma não se faz, nem se desfaz, assim…
Julgar que da alma se arranca as raízes das paixões e das emoções,
é julgar que a vida não tem fim!
E encoberta na razão, escondida no não pensar,
anestesiada de sentires, nua de si,
eis que encontrou o seu descanso derradeiro!
Derrubados foram os muros visíveis,
de pé permaneceram os invisíveis!
E deles surgem timidamente as primeiras palavras
forçadamente despidas, mascaradas,
trazendo encoberta tão grande conotação!
São as mesmas palavras de outrora!
Somos sempre os actores da peça por nós escrita,
tirámos só a encenação!
E se a distância no palco curta fosse,
o mundo seria nosso!
O nosso mundo...

Graciete Belo Maciel

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Tudo corre...

Mergulhada em ti estou...
Contigo me deito, contigo acordo!
Passam os dias, passam as noites,
corre o tempo indiferente e acelerado.
Os instantes, os momentos, os dias...
O turbilhão do dia-a-dia.
A vida apressadamente a fugir...sem nós!
Tudo corre...
Pena não levar o meu sentir!
Tudo deixa...
E mais cava este abismo sem fim à vista
que me cega e deixa sem vista!
E empurrado corre o tempo, em contratempo!
Engendrado nas dúvidas da insegurança, no redemoinho
de tão incerto pensar, de decidir demorado,
correu o tempo mais apressado!
Derrubou tudo o que havia sido confidenciado!
Que ninguém de mim se acerque
para extorquir meu sentir!
Assassinos do tempo, não vedes o que fazeis?
Tempo inquinado, tempo adiado!
E eu...no fundo de mim, contigo!

Graciete Belo Maciel

domingo, 11 de outubro de 2009

Revolta

Quem dera que a tua dor fosse igual à minha!
Tão tranquila ficaria com a minha mágoa.
Que companhia tão desejada e esperada.
E mais a minha dor se atenuava, se soubesse que por mim sofrias.
E então poderia também por ti sofrer.
Como me sentiria grandiosa se pudesse partilhar as tuas dores.
Quanto me aliviaria!
Mas silencias o que sentes e nada de ti sei.
Sinto-me revoltada!
Esta agonia que me cobriu e insiste continuamente em não me largar,
se lhe desse a beber o teu sentir talvez ela se embriagasse!
E então ficaria calma e serenamente à espera que um dia
lentamente se fosse embora, assim...
Sem me dizer adeus, assim...
A vê-la partir devagarinho,
a esvair-se em fumo que bem alto subiria
e...para sempre desapareceria!

Graciete Belo Maciel

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Amizade...

De Pedro Abrunhosa, aprecio a sua formação musical, muito bem expressa nas notas que do piano escapam pelas lindas melodias que compõe, juntamente com as letras fantásticas que fazem chegar estas notas musicais ainda mais longe.
Confesso que quando o vi actuar ao vivo, as minhas expectativas foram superadas, porque a sua voz, com características muito peculiares, e que nem sempre me agradou, ficou não sei se diluída na sua interpretação, se quando ao piano se sentava ou se quando me perdia na força das palavras. Muito provavelmente terão sido todas.

E uma das que cantou com letra em poema, que me absorveu arrastada pelo encanto da música, foi a que aqui vos trago.




E como nós somos naturalmente seres que, desde muito cedo estabelecemos relações com os demais, e é a amizade que faz perdurar no tempo as mesmas, que ouçam com atenção a letra desta música.

domingo, 4 de outubro de 2009

Destino...

Não, não acredito no destino.
Há circunstâncias na vida que nos podem fazer pensar, intuitivamente, que ele nos anda a rondar! Isso posso aceitar, numa primeira leitura.
Mas como mulher de ciência que sou, com uma componente espiritual vincada e patente me que complementa, entenda-se no seu sentido lato, que é mais abrangente do pensamos, que não se resume à religiosidade, e que não tem até necessariamente de a englobar, e esta minha parte espiritual permite-me que tenha liberdade!
O passo que a seguir dou, é sempre a minha escolha. Não é a de um qualquer destino!
Perante situações concretas, o destino apenas serve para tentar explicar o que não entendemos. Sempre assim foi, e a história da humanidade mostra-nos precisamente isto. O que nos acontece ou que vemos ocorrer, muitas vezes resulta precisamente de um conjunto de factores ou circunstâncias, que casualmente se agrupam e que levam a um determinado desfecho.
Mas a evolução das espécies não nos diz precisamente isso?
Poderia ter ocorrido noutro sentido, se os factores que hoje conhecemos não se tivessem conjugado como o fizeram. Sabemos que muitos factos que poderão ser mais ou menos enigmáticos, conforme a amplitude da nossa espiritualidade e do nível de conhecimento de cada um de nós, são explicados pela ciência. Outros há ainda, que a mesma ainda não está desenvolvida por forma a dar-nos uma resposta. Mas certamente que daqui a uns anos, não sei se muitos ou poucos, não tenho dúvidas que a mesma dará.
O destino também é utilizado para desculpar-nos, quando não queremos usar a liberdade da nossa espiritualidade ou quando não queremos ou podemos fazer escolhas.
Como vamos enfrentar estas circunstâncias independentemente da sua origem?
Depende só nós. De mais nada!
Para mim, elas não são mais do que evidências ou factos que nos são colocados e que nos impulsionam ao confronto e, muitas vezes, também à reflexão. Perante os mesmos, temos que agir. Esta é a minha certeza!
Quando digo agir, englobo a aceitação e a não aceitação.
E parece-me que é nesta dicotomia que reside a grande questão.
Se nada pudermos fazer contra estas circunstâncias que nos são colocadas, só nos resta aceitá-las com passividade e prosseguirmos o nosso percurso obviando ou melhorando, conforme a situação.
Se pudermos fazer algo, é unicamente uma oportunidade que nos foi dada. Se a queremos, que a agarremos, este é o momento! Se não a queremos, que se rejeite para sempre! E prossigamos…
Quando não usamos a nossa espiritualidade, perdemos a nossa liberdade e deixamos de ser quem somos!
As probabilidades de alguém ou alguma circunstância decidir por nós aumentam e, por vezes, somos levados para onde não queríamos!
E aí estando, tudo se complica e assume proporções em forma logarítmica! E, assim sendo, mais nos desencontramos e sem identidade ficamos!
Nada de nós, então nos resta!
Não, não é o destino! Somos nós!

sábado, 26 de setembro de 2009

Everybody's got to learn sometime



Não é a versão original, mas é uma das músicas que me recordam os anos 80 e que gosto de escutá-la.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A Hora da Despedida

Ah, não me lembrem essa hora...
Não me lembrem essa hora de dor sem medida,
esse instante temido e sofrido,
a hora mais triste de todas as horas!
Não me lembrem a hora da despedida!
A hora que o meu mundo fica perdido
com o morrer de todas as auroras,
tapado com o descer do pano da obscuridade,
esvaziado de todos os sonhos, de toda a realidade!
A hora que carrego um desassossego desmedido,
a força da inquietude, da ansiedade,
do penoso dizer adeus sem regresso marcado,
a tudo, a quem amo, a quem desejo...
Um adeus, com hora marcada!
Ah, não me lembrem essa hora!
Este amargurado ensejo
que me entra em minh’ alma para despojá-la
e a transbordar de angústia deixá-la.
A hora que acarreta todos os arrependimentos,
todos os enganos, todas as perguntas
todas as incertezas e tão poucas certezas!
É a hora do adeus para sempre (?)!
Meu corpo desnorteado em passos desgovernados
em compasso com as incertezas do depois,
vagueia sem alma moribundo
em nada, em tudo, em vão (?)
fundido no desespero da agitação.
Sou árvores ermas balanceando sem orientação,
a quedarem-se ao mais devastador dos ciclones
que atravessa o cerne por atrozes rajadas de vento,
despindo folhas de lágrimas sem alento
em tristes noites sem estrelas, sem luar
e deixando-as curvadas à dor do sentimento
em espasmos de enlouquecer,
a bradar neste desatino sem fim avistar,
derrubado apenas pela fatídica chegada do adeus!
Até quando?
Até sempre!
Sempre de indefinidamente ou de eternamente!
Ah, não me lembrem essa hora...

Graciete Belo Maciel

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Onda


Na tranquilidade dos sentires,
inesperadamente surge a onda que nos enrola,
confundindo nossas mentes
e atirando-nos para o fundo.
Assim é o meu mar!
Rodeia uma ilha sem plataforma e isolada no oceano.
Por isso, tudo é mais fundo e profundo,
mais sentido, mais vivido!
Só quem é ilhéu, tem a força de todas as ondas,
a quietude para enfrentá-las
e a certeza que a mansidão volta sempre!
Também sabe, tão bem, que outras ondas surgirão.
Contudo, até lá…
vive intensamente e despreocupadamente este idolatrado mar.
Assim é o meu amar!
A serenidade regressa sempre tranquilamente,
depois das palavras e dos sentimentos confidenciadas a esta onda!

Graciete Belo Maciel

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O mar tem longe


Do oriente do meu mar,
enrolado nas ondas das palavras,
sem que soubesse, sem que quisesse,
chegou o sentir de alguém.
Trouxe a pureza das águas límpidas do meu mar,
a força do sentimento vinda do fundo,
do seu interior!
Qual vulcão adormecido,
que explodiu despojado de imagens,
só pelo poder das palavras!
A lava em mim solidificou
e agarrada ficou!
Pedra firme se tornou!
Mas que desventura me assolou!
O mar não me deixa amar!
O mar … o mar que sem ele não vivo,
agora … não me deixa viver!
Nem a linha do horizonte avistar!
Quer o meu sonho matar,
o meu querer, o meu sentir
e tudo o que me restar … a minha alma!
Só o chorar me deixou!
Mostrou-me a sua soberba imensidão
e disse-me que o longe existe.
E existe … existe, lá está!
Vaguei à procura de rumos … e a rastejar fiquei, à sua beira!
Não me deixa partilhar sozinha contigo,
este instante, este momento,
nem outro instante, nem outro momento!
E que tamanha vontade tenho!
É da mesma grandeza do mar,
do mesmo intenso desejo da sua força!
De bem juntinha a ti estar,
também contigo a chorar,
também contigo a sofrer,
também contigo a amar!
Apenas posso, sozinha chorar!
Lágrimas ocultas e lágrimas choradas,
lágrimas de dor e sofrimento,
mergulhadas e saídas das ondas da incerteza
que chegam e partem do meu pensamento.
Se num momento ao teu lado estou,
no outro, a maré já o levou!
E fica a gélida tristeza,
que o mar é realmente feito de longe,
de uma lonjura que afoga os sonhos
e não os deixa a ti chegar!
E eu … não o posso vencer!
Será que o mar me sussurra
e me quer confidenciar que nunca,
que nunca contigo estarei?
Será isto que me quer dizer?
Será verdade?
Quem me responde (?)!
E eu … nada sei!
Nada posso fazer!
Dói-me tanto a tua ausência!
O pensar que para todo o sempre te perderei!
Dói-me tanto, amor!
Resta-me apenas submergir com o meu tesouro
e levar comigo a chave.
Que nunca ninguém o descubra!
Porque chorarão e sofrerão,
tal como agora o faço, e dirão:
- Que amor tão puro e tão grande
que se perdeu nas águas do mar!
E com memórias da alma,
continuo a sofrer e a chorar de amor.
É o que guardo de ti!
O mar assim o ditou!

Graciete Belo Maciel

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

A Glicínia do Meu Jardim


A glicínia do meu jardim ficou sem vida.

Os dias curtos do Inverno apoderaram-se da luz que a fazia ser diferente.

Entraram no seu interior!

Injectaram doses de ácido abcísico letais

lentamente, muito lentamente…

E arrancaram as auxinas, as giberilinas e outras que tais

de devagar, muito vagarosamente…

E tudo lhe roubaram, tudo lhe tiraram!

Restou uns ramos emaranhados sem nada,

iguais a tantos outros sem nada

que sobre si se confundem,

que sobre si se enovelam!

Extorquiram a sua beleza diferentemente diferente

e deixaram-na dormente!

Pensativa ficou nas longas noites de Inverno sem fim,

como sem fim ficou o seu pensamento!

Desespero do reencontro perdido no tempo,

sufocado pelo traiçoeiro poder desmedido de tudo querer…

Mas … que tudo faz perder!

Perdida no tempo e no espaço ficou

e sozinha deambulou!

Vi o seu sofrimento, a sua dor.

Eu vi! Eu senti!

A obscuridade já desvaneceu,

O fotoperíodo venceu!

Na minha glicínia, já vejo as gemas.

E sei que virão, não as folhas, como em muitas outras

mas as flores que subtilmente surgirão

em arranjos diferentemente organizados,

emanando um aroma insólito

que longe se projectará.

De longe eu sei que irão ser diferentes como sempre o foram.

De longe eu sei que serão só flores.

E que sempre quiseram ser apenas … só isso!

Apenas flores!


Graciete Belo Maciel

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Uma faceta pouco conhecida de Charles Darwin

Charles Darwin é um exemplo “vivo” de quem seguiu os seus sonhos e passou-os a verdades incontestáveis.


Admito que foi com alguma admiração que li este pequeno excerto que abaixo transcrevo. Além do mais, está impregnado de várias concepções ou pensamentos que me parecem dignos de serem lidos e reflectidos.


“Se tivesse de viver outra vez a minha vida, teria feito uma regra para ler alguma poesia e ouvir alguma música pelo menos uma vez por semana; é que talvez as partes do meu cérebro actualmente atrofiadas se tivessem mantido activas com o uso. A perda desses gostos é uma perda de felicidade e possivelmente é prejudicial para o intelecto e mais provavelmente para o carácter moral, ao debilitar a parte emocional da nossa natureza.”

Charles Darwin

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Choro

Choro por quem amei,
choro por quem nunca terei!
Não sei qual dor a maior!
Se por quem terminei,
se por quem nunca comecei!
Tantas foram as lágrimas inférteis que derramei
que na razão serenamente as esquecerei!
E desaparecidas ficarão, sem argumentação, sem razão!
Mais uma lágrima vertida que se rapidamente se infiltraria neste chão arenoso?
Neste chão feito de amor que se fez penoso?
Não! ... E não!
Mais uma lágrima minha seria pecado meu!
O maior que alguma vez cometeria!
Choro então por quem pisou os mesmo passos que eu,
por quem viveu no mesmo espaço,
com passos descompassados dos meus no tempo!
Choro por quem entrou no meu íntimo espaço,
no meu presente e no presente do tempo,
longe na distância!
Foi o tempo ... é a distância!
E agora que finalmente nos encontramos,
unidos no mesmo tormento, unidos no mesmo sentimento,
choro por quem nunca possuirei,
por quem obstinadamente se entrega ao sofrimento
e insiste em cumprir eternamente este padecimento!
Quão inúteis são as minhas lágrimas!
Ninguém as vê, ninguém as sente,
ninguém as enxuga do meu rosto!
Porque choro?
E a razão a gritar-me constantemente para não lacrimejar
por quem não tem a audácia de na estrada errada atrás voltar,
por quem de mim foge quando lá vou parar,
e que continua absorto nesta bafagem que mais ventosa se irá tornar!
Se minhas lágrimas lavarem minh’alma
e parar forem onde não as veja,
arrastando este desgovernado sentir,
enterrando-o bem fundo para todo o sempre,
estarei já noutro caminho que me deseja!
E então as lágrimas sofridas se transformarão
e no ciclo da água entrarão ... evaporar-se-ão!
Quando sentires a chuva no teu rosto,
serão as minhas lágrimas que nele cairão!
E eu não estarei lá para enxugá-las!

Graciete Belo Maciel

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Acredito...

... que tudo se simplifica, quando o fazemos tal como em “My Way”, quando seguimos o que a Alma nos dita.


“And now the end is near…” quando não podemos dizer que “I did it my way”!


sábado, 1 de agosto de 2009

Este registo

Desconhecia Paco de Lucía neste registo. Como sempre gostei desta música e deste músico, foi com grande admiração e, simultaneamente, com grande vontade de ouvi-la, por este grande intérprete, que o fiz. Os acordes da guitarra de Paco de Lucía, neste dia primeiro de Agosto, têm também um significado marcante para mim!


sexta-feira, 31 de julho de 2009

Obscuro e Revolto



Labareda ardente que o vulcão lançou
ao avistar o que lhe era uma miragem!
E mais explodia de encanto e crescente ardor,
fascinado e deslumbrado com tão real imagem!
Cativo e enfeitiçado por tão grande amor,
expandiu-se abarcando o chão que não lhe pertencia.
Revolto ficou o mar com tal intromissão
e depressa se levantaram ondas de tamanha dimensão!
Brotaram as cores e as formas da tristeza,
trazidas em sucessivas ondas de gigante incerteza,
galgando velozmente sentires,
engolindo todos os quereres,
matando viveres!
Ondas cegas ... de intrusão e confusão
que não deixaram o horizonte do mar descortinar!
Ondas do mar ... que traiçoeiras são!
Afogaram-se em si ... e desfizeram em nada!
Por não mensurar e pelejar! ...

Graciete Belo Maciel

domingo, 26 de julho de 2009

É a Alma...

A alma retrata-se no corpo!
Quem não aceita a sua alma ou finge não a ter,
vive descompassado, sofre seguramente com esta arritmia!
Nunca terá a fusão do corpo com a alma. Não se encontrarão!
Nunca saberá o sinergismo que daí advém.
Nunca terá a sincronia do seu ser. Não neste mundo!
Quando a alma transparece pura e serena, o corpo exprime-a!
Ouve-se todos os sons, os ecos e os silêncios dos sentimentos!
Vê-se as cores, a luminosidade, as sombras e as formas que assumem as emoções!
Inala-se o perfume desta sublime e subtil ligação!
Alimenta-se com sentires purificados o coração
que bombeados serão na grande e na pequena circulação!
Toca-se o amor, com o corpo ... em tudo, em todos!
Não se encontram semelhanças de nós no corpo de ninguém!
Apenas se descobrem na alma de alguém!
É a alma que dita os pontos cardeais do nosso mundo!
É a alma que nos aproxima e nos distancia!
Só ela o sabe ... e o pode fazer!

Graciete Belo Maciel

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Com Alma …

Classifico esta fabulosa interpretação apenas assim! Com alma ...

O que acima publico, "É a Alma...", espelha-se também, quando Louis Armstrong canta "What a Wonderful World"...



De forma simples, é também assim que quero continuar a olhar para o mundo ... com alma!

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Fugindo ...

Fugindo ...
Fugindo dos raios de sol que te querem alcançar,
que não são mais que meus braços!
Que ao de leve te tocam, te cobrem
e se entranham no teu recôndito esconderijo,
na fissura mais pequena e oculta da rocha que transportas
e que se formou com lavas de desencanto!
Sentiste-lhe ilha envolto em tanto mar!
Deslumbramento há tanto perdido no tempo!
No tempo em que pisaste a ilha ...
E ilha foste ... por opção!
És lava revoltada que escorre pelo cone do vulcão
sem destino, sem previsão!
Porque não foges do fogo infernal da erupção (?)
do ruído atroz que te ensurdece,
do fumo que cega teu olhar,
dos gases malignos que inalas
e que atordoado te deixam a rastejar?
Fugindo ...
Continuamente fugindo ...
Já não és tu!
Já nada é mais a tua opção!
É a tua prisão!...

Graciete Belo Maciel

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Desnudada


Se bem pertinho de ti estivesse,
de tudo desnudada,
trazendo apenas o passado feito de nada,
sem a existência de momentos vividos,
sem memórias, sem recordações ...
haveria tamanhas aproximações!
Saudades infinitas de tempos não tidos,
vindos duma repentina inundação
que desmedida galgou o meu pensamento
e se fundiu em profundo sentimento!
Ânsia desmesurada de ensejos vindouros
de tudo despojados, despidos!
Apenas ... sentidos!
Apenas ... cheios de ti!

Graciete Belo Maciel

terça-feira, 14 de julho de 2009

Há Amores Assim

Uma banda com uma vocalista dotada de uma voz muito bonita e de uma interpretação, em palco, muito interessante.
Para além de gostar da sonoridade da música, chamo a atenção para a letra. Linda!

domingo, 12 de julho de 2009

Ilhéus da ILHA

A ilha tem os seus ilhéus, que demarcados estão.
Os ilhéus fazem parte da ilha.
Dela são!
Partilham o mesmo mar!
As mesmas ondas de revolta, de desespero...
As mesmas ondas de calmaria, de serenidade...
Cada um com as suas particularidades, o seu mundo!
E singularidades únicas são também no mundo!
São pedaços da ilha, do seu mundo!
Há ilhéus mais distantes...
Outros há mais próximos...
Quando a ilha em si se encerra, se estanca,
ignorando os seus ilhéus, compartimentando-se só no seu espaço,
egocêntrica se torna, querendo a realidade ocultar!
Surgem nevoeiros de incertezas no ar
que pairam na ilha, sem que o vento os leve!
A neblina não deixa os ilhéus a ilha avistar!
E a ilha mais obscurecida, mais perdida,
mais envolta no negrume vindo de dentro de si,
mais mergulhada na tristeza, mais longe da certeza,
mais distante de si!
Ó ilha...
Ó ilha que emerges e submerges!
Ó ilha que submerges e emerges!
Os ilhéus são mundos teus!
Alguns há feitos de felicidade
que escorreram da tua lava!
Porque não os tomas como teus?

Graciete Belo Maciel

sábado, 11 de julho de 2009

Yann Tiersen

Yann Tiersen, músico e compositor Francês, dotado de uma grande versatilidade, essencialmente pela diversidade de instrumentos que toca, e também devido ao seu estilo musical muito próprio.



Ficou internacionalmente conhecido, depois de ter composto a banda sonora do filme «Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain”.

terça-feira, 7 de julho de 2009

À borda de ti...

Por mais ajuda que te suplique,
por mais que te queira somente para acalentar a minha dor,
que me podes tu fazer?
Tão pouco neste imensurável oceano de tanto querer!...
Tudo é mais forte que as palavras que me dizes!
Se no momento conforta o meu sentir,
no outro, já não as ouço.
Perdidas ficam neste oceano profundo e sem fim,
emergindo em instantes entrelaçadas entre todas as outras,
disfarçadas de adjectivos, extraviadas de sentido,
bradando o mesmo que todas as outras,
assim mesmo, tal como as dizes!
Envolve-as em razões, imbuídas de emoções
disseminando tantas contradições!...
Assim te sossegaram desta maresia,
querendo-me amainar esta revolta,
pedindo a calmaria da maré vazia,
deixando-me na inquietude da lua nova,
depois de esvaziar tudo o que sentimos
e de selarmos os nossos desejos com beijos.
E eu ... à borda d’água ... à borda de ti!
Em ti fico novamente,
com a mente a escapar-se sorrateiramente,
cruelmente alheia entre os ditos e os sentires!
Ah, triste mente a trair-me tristemente,
abalando minh’alma, meu corpo!
E de novo estamos nós!
Entre o oceano e a terra,
entre o amar e o querer,
entre o tudo e o nada!

Graciete Belo Maciel

Ao meu primeiro PONTÃO

A ilha formou-me!
E foste tu, com a tua energia, que se foi acumulando ao longo do tempo, um dos grandes responsáveis para que esta ilha emergisse.
Está sólida, mas derrama ainda a lava, que sabe onde se irá solidificar, mas desconhece os caminhos para tal.
Assume por isso, formas e cores que não são definitivas, mas, como sempre, só o tempo irá ditá-las, com a sabedoria que ele trás.