sábado, 27 de fevereiro de 2010

Águas da incerteza

Não senti que nelas entrasse...
Dei por mim já afundada nas águas da incerteza.
Tão subtilmente me invadiram...
E...para destino nenhum me levaram!
Arrastaram-me para o fundo do nada,
apunhalando-me o que tinha por certo!
Não vejo águas límpidas sem fim à vista.
Sinto um redemoinho que me força a parar
e não me deixa avançar.
Será que o meu mar não me quer trair?
Será que o meu mar sabe que estás como eu?
Comigo...para sempre!
Também mergulhado nas águas da incerteza,
nas mesmas que um dia nos galgaram!

Graciete Belo Maciel

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Corpo Nu...


Braços abertos...
Braços sem fim... sem termo!
Braços que se estendem ao acaso
Desvelados, ousados, alados...
Prologam-se ao encontro da fusão, sem prazo!
Corpo nu...
Corpo despido, despojado...
Corpo coberto de sensibilidade
Corpo nu movido a felicidade.
Mente vestida de sentir pincelada na tela, nitidamente!
Corpo nu... denunciador da alma que encobre, claramente!

Graciete Belo Maciel

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Sem nós...


O nevoeiro que sobre nós pairou,
não nos deixou avistar.
Proibiu-nos de aproximar!
Do nosso intento se apoderou
e roubou-nos a valia mais sumptuosa!
Que dor esta que restou,
aguda, penosa, sinuosa...
que contorce os pensares de pesares e dor,
que enegrece o tapume do tempo posterior
e foge constantemente para o tempo anterior?

Ah amor...
Quando sentimos os sons do mar
e escutámos todas as notas,
os dizeres que as acompanhavam,
respirámos a pureza de tamanha sincronia!
Conjugámos os escritos em igual tempo verbal
e ecoámos em sintonia a nossa melodia!
De nós se cercou ávido furação
de tão cruel devastação
que se encheu de massas de ar
pra chamar a si o nosso amar!
Guardámos a nossa pauta
e... fizemos uma pausa!

Ah céus abertos, secretos dias!
Sem nós só há noite,
almas negras que vagueiam na escuridão,
corpos moribundos que padecem comiseração,
vidas alienadas sem direcção,
corações famintos de emoção!
Sem nós não há o pulsar sincronizado da paixão,
os dias que o sangue corre veloz
ao sabor da nossa voz.

Oiço o mar a murmurar!
Neste percurso de trazer e levar,
nossas melodias balançam silenciosas neste mar feroz.
Sem nós calou-se a voz!
Morreram almas que se encontraram!
E ficou o mar a bramir
este luto sem fim, esta sofrida dor
por deste mundo partir,
o amor... o amor!

Graciete Belo Maciel

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Campo de Batalha


Armas morteiras
na mira do amor certeiras.
Balas que disparam sem saberem
que atingem quereres sem quererem
neste mar imenso condenado à ondulação
com vagas de descomunal dimensão
que assolam desmesurado coração
e consomem desmedida paixão!

Lutam rios com oceanos.
Batalham dias com anos.
Gladiam-se sonhos com vidas reais.
Combatem soldados com generais!
Sobrevivem... amores e desamores!
Do icerberg, o visível dissimula o fortalecido invisível.
Mas... vence a hipocrisia que se mais avoluma, falhada
conquista no viciado campo de batalha!

E batem-se palmas de vencedores, iludidas
a camuflarem verdades anestesiadas
que o tempo as ditou mais irreais que as derrotas no campo estendidas.
Mais uma ilha submersa que se forma sem plataforma!
E o guerreiro exausto de vitórias sem forma
olha o sangue que lhe está agarrado
seguindo o rasto da dor de ser vencedor desta batalha.
Seu sangue ligado ficou ao chão derrotado!

Graciete Belo Maciel

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

CICLOS DA VIDA - Paulo Coelho

Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final.
Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.
Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos, não importa o nome que damos.
O que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.
Foi despedido do trabalho?
Terminou uma relação?
Deixou a casa dos pais?
Partiu para viver em outro país?
A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?
Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu.
Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó.
Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seu marido ou sua esposa, seus amigos, seus filhos, sua irmã...
Todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.
Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem connosco.
O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.
As coisas passam e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora.
Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem.
Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.
Deixar ir embora.
Soltar.
Desprender-se.
Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas.
Portanto, às vezes ganhamos e às vezes perdemos.
Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu génio, que entendam seu amor.
Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando e nada mais.
Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceites, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal".
Antes de começar um capítulo novo é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará.
Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa...
Nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.
Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.

Encerrando ciclos.
Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba.
Mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida.
Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira.
Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é.

Acerte em tudo que puder acertar. Mas, não se torture com seus erros.

Paulo Coelho