A glicínia do meu jardim ficou sem vida.
Os dias curtos do Inverno apoderaram-se da luz que a fazia ser diferente.
Entraram no seu interior!
Injectaram doses de ácido abcísico letais
lentamente, muito lentamente…
E arrancaram as auxinas, as giberilinas e outras que tais
de devagar, muito vagarosamente…
E tudo lhe roubaram, tudo lhe tiraram!
Restou uns ramos emaranhados sem nada,
iguais a tantos outros sem nada
que sobre si se confundem,
que sobre si se enovelam!
Extorquiram a sua beleza diferentemente diferente
e deixaram-na dormente!
Pensativa ficou nas longas noites de Inverno sem fim,
como sem fim ficou o seu pensamento!
Desespero do reencontro perdido no tempo,
sufocado pelo traiçoeiro poder desmedido de tudo querer…
Mas … que tudo faz perder!
Perdida no tempo e no espaço ficou
e sozinha deambulou!
Vi o seu sofrimento, a sua dor.
Eu vi! Eu senti!
A obscuridade já desvaneceu,
O fotoperíodo venceu!
Na minha glicínia, já vejo as gemas.
E sei que virão, não as folhas, como em muitas outras
mas as flores que subtilmente surgirão
em arranjos diferentemente organizados,
emanando um aroma insólito
que longe se projectará.
De longe eu sei que irão ser diferentes como sempre o foram.
De longe eu sei que serão só flores.
E que sempre quiseram ser apenas … só isso!
Apenas flores!
Graciete Belo Maciel