quarta-feira, 19 de agosto de 2009

A Glicínia do Meu Jardim


A glicínia do meu jardim ficou sem vida.

Os dias curtos do Inverno apoderaram-se da luz que a fazia ser diferente.

Entraram no seu interior!

Injectaram doses de ácido abcísico letais

lentamente, muito lentamente…

E arrancaram as auxinas, as giberilinas e outras que tais

de devagar, muito vagarosamente…

E tudo lhe roubaram, tudo lhe tiraram!

Restou uns ramos emaranhados sem nada,

iguais a tantos outros sem nada

que sobre si se confundem,

que sobre si se enovelam!

Extorquiram a sua beleza diferentemente diferente

e deixaram-na dormente!

Pensativa ficou nas longas noites de Inverno sem fim,

como sem fim ficou o seu pensamento!

Desespero do reencontro perdido no tempo,

sufocado pelo traiçoeiro poder desmedido de tudo querer…

Mas … que tudo faz perder!

Perdida no tempo e no espaço ficou

e sozinha deambulou!

Vi o seu sofrimento, a sua dor.

Eu vi! Eu senti!

A obscuridade já desvaneceu,

O fotoperíodo venceu!

Na minha glicínia, já vejo as gemas.

E sei que virão, não as folhas, como em muitas outras

mas as flores que subtilmente surgirão

em arranjos diferentemente organizados,

emanando um aroma insólito

que longe se projectará.

De longe eu sei que irão ser diferentes como sempre o foram.

De longe eu sei que serão só flores.

E que sempre quiseram ser apenas … só isso!

Apenas flores!


Graciete Belo Maciel

2 comentários:

  1. ...e não é que, quando aqui é inverno, as plantas da mesma espécie, no outro hemisfério estão a florir?!
    ...e não é que, sempre que o Sol de põe, a luz das estrelas, suave, embala o sono necessário para retemperar forças e absorver toda a energia vindoura no novo alvorecer?!
    ... e não é que, a glicína em flor, ou já sem ela, não é mais que um estádio vegetativo da planta que a suporta no emaranhado de ramos agarrados ao caule, sustentáculo primeiro da vida que vem do fundo, radicular, presente sempre?!
    ...e não é que, as estações do ano, ou a fisiologia vegetal, são etapas, sucessivas e cíclicas, das vivências que a vida vive para lá do seu interior perene?!
    ...e não é que, a figura de estilo ou a metáfora, não é outra coisa senão outra forma de dizer o mesmo?!

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  2. Amigo Marques,
    Quanto apreciei os teus parágrafos...
    A vida realmente é feita de bocados de tempo que se vão sucedendo naturalmente, regidos de igual modo para todos, pelas leis da Biologia. Mas elas não impedem que o dia de amanhã seja esperado sempre com maior entusiasmo, por quem acredita que, qualquer que tenha sido o caminho que percorreu, o que lhe falta percorrer, poderá ser sempre melhor, se for delineado de acordo com a experiência e a maturidade adquiridas.
    Acima de tudo, acredito que, mesmo que este caminho apenas dure um dia, mas se for feito de felicidade, vale sempre a pena, uma vez que nunca sabemos quantos dias nos restam!
    Obrigada pelo teu comentário.
    Beijinhos

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