quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A Hora da Despedida

Ah, não me lembrem essa hora...
Não me lembrem essa hora de dor sem medida,
esse instante temido e sofrido,
a hora mais triste de todas as horas!
Não me lembrem a hora da despedida!
A hora que o meu mundo fica perdido
com o morrer de todas as auroras,
tapado com o descer do pano da obscuridade,
esvaziado de todos os sonhos, de toda a realidade!
A hora que carrego um desassossego desmedido,
a força da inquietude, da ansiedade,
do penoso dizer adeus sem regresso marcado,
a tudo, a quem amo, a quem desejo...
Um adeus, com hora marcada!
Ah, não me lembrem essa hora!
Este amargurado ensejo
que me entra em minh’ alma para despojá-la
e a transbordar de angústia deixá-la.
A hora que acarreta todos os arrependimentos,
todos os enganos, todas as perguntas
todas as incertezas e tão poucas certezas!
É a hora do adeus para sempre (?)!
Meu corpo desnorteado em passos desgovernados
em compasso com as incertezas do depois,
vagueia sem alma moribundo
em nada, em tudo, em vão (?)
fundido no desespero da agitação.
Sou árvores ermas balanceando sem orientação,
a quedarem-se ao mais devastador dos ciclones
que atravessa o cerne por atrozes rajadas de vento,
despindo folhas de lágrimas sem alento
em tristes noites sem estrelas, sem luar
e deixando-as curvadas à dor do sentimento
em espasmos de enlouquecer,
a bradar neste desatino sem fim avistar,
derrubado apenas pela fatídica chegada do adeus!
Até quando?
Até sempre!
Sempre de indefinidamente ou de eternamente!
Ah, não me lembrem essa hora...

Graciete Belo Maciel

2 comentários:

  1. Olá, Graciete!

    Há algum tempo que não visitava o teu blogue. Aqui estou a marcar presença. Todos nós já passamos por momentos de despedida temporária ou permanente (?!) e o teu poema descreve muito bem muitos dos sentimentos, que surgem na "hora da despedida". Ninguém gosta desse momento, por ser confrangedor e por isso, muitas vezes nem sabemos o que dizer.
    Mais recentemente, ouve-se com frequência a expressão "então vá" que pessoalmente não uso, nem aprecio, por ser ambígua. Então vá... Para onde?! Prefiro "até breve", "até à próxima" ou simplesmente, "adeus".
    Beijinhos e até breve!

    P.S. - Deixo aqui uma sugestão ao teu poema. Na frase "Sou árvores ermas...", não ficaria melhor "Sou árvore erma...", passando tudo para o singular?

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  2. Olá Leça,
    É sempre com imenso prazer que leio os teus comentários, pois deixam-me a pensar! E isto é bom sinal. Sinal de que sabes interpretar o que escrevo e que vais para além disso!
    Eu também não utilizo estas recentes introduções destes vocábulos. As que sempre foram usadas são mais as precisas e as mais oportunas, no momento da despedida. Também penso como tu.

    Leça, e ainda dizes que não és é grande apreciador desta forma de escrita!
    A sugestão que me fazes tem todo o cabimento, como todas as outras que me podias fazer. A beleza e o encanto das palavras assim escritas está nisso. Cada um tem a sua interpretação, e se consegue absorver o que foi dito, que foi o teu caso, acha que faria mais sentido dito de outra forma, ou não.

    Se tivesse escrito “Sou árvore erma...” daria, sem dúvida, mais ênfase à solidão que é sentida nesta hora.
    Quando escrevo “Sou árvores ermas...” dei mais ênfase ao sofrimento e à força do mesmo, ao igualá-lo a um conjunto de árvores, que se movimenta da mesma forma perante um ciclone. Naquele momento em que escrevi, o que via era precisamente esta imagem.
    Mas também podia ter imaginado como tu o fizeste.

    Sabes Leça, gostei muito desta troca de ideias. Espero que continues com as tuas sugestões, que são muito interessantes.
    Obrigada Leça, e aparece sempre.

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