quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal de Um Dia

Não creio no Natal de um dia!
Não creio num dia feito de rituais
que se segue a outros tantos iguais
e precede a muitos que se seguirão!
Adornos, enfeites, árvores, luzes, presépios sem leitura, riqueza de fartura...
Ajuntamento de pessoas com pretexto, contrapondo dias infindos de desunião.
Presentes embrulhados em hipocrisia e desembrulhados com o gosto de tal amargura!
Trazem laços labirínticos com pontas de tantas direcções e perdições!
Presentes corrompidos por obrigação, sem ponta de emoção!
Amor com dia marcado, amor quantificado em escalas de valor material
e aos setes ventos apregoado, como se fosse mensurável!
Dia de troca de afectos fingidos, sem fuga possível!
Não creio neste dia de almas vazias que ao mundo se anunciam sensíveis,
de corações cerrados que de outrem se compadecem,
que descongelam com prazo marcado as emoções!
Amor sem franqueza, amor com decorações!
Creio no Natal de um qualquer dia,
de todos os que anoitecem e amanhecem!
Creio nos dias transparentes de sensações, livre nos sentires,
de amor sem aprisionamento, só por sentimento!
Creio nos dias de amizades declaradas, anunciadas,
sem condicionantes, sem constrangimentos, sem temores de dizeres!
Creio na integridade dos presentes de Natal de duração anual,
sempre a renascer, a crescer...
Creio na honestidade das palavras simples que da alma emanam!
Presenteadas, tesouros são guardados e enriquecidos no coração.
Não carecem de adornos e enfeites e encobrimentos e fingimentos!
Creio no chão que as acolhe que de fértil ergue e reconstrói seres humanos em todos os momentos.
Creio na singeleza do presépio, na despretensão dos seres humanos em todos os tempos,
no encantamento da vida que exalta sem hesitação, no amor sem condição!
Não creio neste dia marcado no calendário por imposição!
Não creio no Natal de um dia!
Creio nos dias em que o Homem celebra e faz acontecer a magia de só dia!
Creio neste Natal sem pretensão, sem ocasião!

Graciete Belo Maciel

domingo, 20 de dezembro de 2009

Amor por Primeiro...


Se tivesse por inteiro o meu amor por primeiro...
Ah! Minha sombra companheira permanente!...
Meu eco do teu ser gravado na mente!...
Minha solidão escoltada por ti!...
Meu silêncio findado a escutar-te!...
Meu reflexo espelhado em cristalinas emoções!...
Meu eu a transparecer em ti por todas as razões!...

Meu eu em ti...teu eu em mim!
Nós em uníssono com a mesma voz!

Se por inteiro neste amor estivéssemos...
Seria a nossa justa e única perdição!
Toda a loucura e toda a pressa do prazer seriam alcançadas,
galgando sem qualquer perdão vãs fúrias eriçadas!
E em vagas gigantescas e certeiras que assolam o coração,
encharcava-o para todo o sempre da brisa da paixão,
deixando as marcas de tão grande inundação!

E se o amor por primeiro fosse contentamento?
Não se avistariam nevoeiros escondidos e acalentados,
neblinas em tristeza esquecidas, adormecidas,
envoltas em raios de sol de tão de pequeno comprimento de onda, propositadamente!
Só para se ofuscarem e a outrem, apenas!
Não são aprovados pelos olhares mais desvelados!
É nesta mistura que as enxurradas arrastam penedos aguçados e revoltados!
Tempos de calmaria com tanta ira, eternamente!

E se o amor por primeiro fosse um mandamento?
Deus meu a ti me confesso!
Perdidos se vêem pecados nas águas a boiar!
No fundo do mar encontrareis o verdadeiro amar!
Neste mar constantemente condenado à ondulação,
vereis dois seres alheios perdidos em si!
Somos nós, Deus meu!

Se o amor por primeiro fosse inteiro,
seria nosso em primeiro!

Graciete Belo Maciel

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Há quanto tempo...


Há quanto tempo...
meu corpo adormecido e minha mente entorpecida,
arrastando se foram nos dias que de iguais apenas passavam,
perdidos, deambulando nas longas e dolorosas noites gélidas sem fim, sucessivas!
Meus braços sem amarras presos ficaram
e enregelados se quedaram!
Em quimeras se atrofiaram!

Há quanto tempo...
Já esqueci o sol da emoção,
as noites mais longas de todas as noites,
o dia emergindo das tonalidade quentes que se fundem, sem pressa,
embalado pela nocturna felicidade de tamanha satisfação!
Já esqueci a magia de todos os recantos encantados,
o tempo que não acaba, sem hora marcada,
esquecido no anómalo prazer e rubor
dos corpos emaranhados no amor!

Há quanto tempo...
Que meu alento diluindo se foi na escuridão
e alastrando-se, invadiu meu corpo, minha mente, impiedosamente!
E meus gritos mudos e abafados,
tristes desígnios prolongados no tempo,
escutaram e seguiram todos os passos da alma, escrupulosamente.
Todos em vão, todos sem qualquer perdão!
A alma bradava no silêncio, palavras caladas, cansadas,
a ela chegando outras tantas sem retorno, repetidamente.
Incúrias!
E indagava na certeza o que não queria por certo, sem remissão.
Injúrias!

Há quanto tempo...
Que só creio em utopias que meu mar de ilha me ensina!
Linhas ilusórias que traça, perfeitas,
eleitas em mantos de oiro entendidos em outros tantos de prata,
jazidas emersas de brilhantes em bruto lapidados,
que adornam corpos puros, de tudo despidos,
ladeados por ondas que sem culpa formada neste mar se formam!

Há quanto tempo...
Vi meus amores duradoiros, em momentos,
volveram em correntes tortuosas, em tormentos,
e sem culpa formada serem afundados!
Vi meus amores serem incinerados,
reduzidos a cinzas e enterrados!
Como todos os amores...com igual fim!
-
Graciete Belo Maciel