sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Assim como o amor

Quadro: pintado por Graciete Belo Maciel


Quando o fogo enérgico se vai acumulando no interior sem dissipar, brota com uma intensidade desmesurada, parecendo não parar...assim como o amor!
Mas é este fogo que atinge o equilíbrio ao metamorfosear-se tranquilamente em águas calmas, perdurando aquecidas e tatuadas de fogo para sempre...assim como o amor!

Graciete Belo Maciel

domingo, 22 de agosto de 2010

Árvores asfixiadas


Árvores de raízes asfixiadas
Belezas definhadas, figuras esvaziadas...
Árvores na tristeza adormecidas, na dor inundadas.
Ao longe e ao perto, vidas perdidas
Acalentadas de renascer, vidas escondidas.
Assim são...todas iguais...aqui, ali, além...
Tristes árvores que nem o olhar detêm de alguém!
Dissipam a alma esmagando-a sem dela se alimentarem!
Fecham-se em circuito fechado nas mágoas ocultas
Nas iras mais íntimas, nos desejos reprimidos
Nos destinos entretanto perdidos
Que se dissimulam em máscaras no rotineiro quotidiano
No juntar das horas que o bater do relógio vai lembrando, constantemente...
Rasgos de cenários que caem e se levantam sem a cortina fechar (serenamente)!

Graciete Belo Maciel

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Silêncio

Brado os gritos que me restam
Despejo as palavras que me enchem
Esvazio as emoções que me sufocam
Murmuro os passos da minha jornada,
abrindo mão de meus segredos.

Não têm retorno as lágrimas que verto!
Convertem-se em pedras que no vazio caem
Nas poucas cinzas do cigarro que fumo
e que as pisam para que ninguém as veja.

Congelam o que sinto em azoto líquido
Evaporam meus ditos para lá do além
e afundam meu ser no esgoto do esquecimento.

Nada mais tenho!
Tudo dei ao silêncio...
Vazia de mim e cheia de silêncios
Embriago-me em poemas
Que julgo ser a Deusa!


Graciete Belo Maciel

terça-feira, 20 de julho de 2010

Abram alas ao amor

Cobiçado foi nosso inesperado encantamento,
Tão puro enamoramento!
Pensar que se tem iguais sentimentos aos que nasceram em nós,
É triste sina, desventura eterna, ilusão amargurada!
É remédio d’ alma temporário, com validade marcada,
Sem cura de feridas que a sangrar ficarão,
Aprisionadas, sem o querer do coração!
Quando não pudermos fugir mais indiferentes à voz da verdade que nos persegue
E nos ensurdece de tanto repetir, impiedosamente, nossas frases carregadas de tudo,
Fazendo-as passar constantemente na mente em rodapé;
Quando não podermos assistir mais indiferentes às imagens que se avolumam na memória
Galopando velozmente para cenários mais elaborados, mais detalhados;
Quando quiseres ver que a vida te fez de novo nascer para a ti regressares;
Então…
Nossos olhos se cruzarão sem fronteiras de temor,
E nossa alma denunciará ao mundo este adormecido ardor.
Abram alas ao amor…
E estendam as pétalas há tanto nos roseirais.
Tragam as estrelas cansadas de nossos olhares unirem,
Os mares que silenciados transportaram nossos segredos,
Todas as noites perdidas de pensares de querer e não ter,
Os dias passados entre a constante presença na ausência,
O tempo que teimosamente foi negado e abandonado.
Vejam como é feita a saudade!
Abram alas ao amor…
Que entrem os aromas dos campos, os cheiros da terra,
A ilha que nos fez encontrar!
Abram alas ao amor…
Que chegou agora mesmo da longa viagem!

Graciete Belo Maciel

domingo, 11 de julho de 2010

Veleiros que passam ou ficam


Sentada nas rochas basálticas da ilha
Sinto o calor que emanam,
Invadindo lentamente todo o meu ser
Que velozmente me deflecte o percorrer do meu pensar
Em veleiros que fui avistando em mar sereno a terra chegar.
Olho bem fundo nos olhos deste mar
Num olhar cúmplice de tamanha intimidade
Conquistado na privacidade dos dizeres,
Nos tempos que velejavam avidamente bem junto aos sentires
Em destemidos veleiros aventureiros
Que atracavam vindos do outro lado do mar,
De terras distantes que nunca pisei!
Alguns houve que os vi, um a um, a abalroarem-se
Em baixios rudes de míseros desfechos, sem fidalguia de navegar
Nas águas transparentes que abarcam o corpo da ilha, a alma da ilha.
Afundarem-se transbordando muito de nada em traçado jazigo!
Outros houve que se fizeram ao mar na inquietude de um porto de abrigo,
Cansados de terras inférteis que sopram ventos de pó
Que enlaçam seu destino construindo teias de nó em nó!
Inesperadamente marcadas nos mapas do destino sem previsão
Surgem rotas assinaladas pelo instituto sem explicação,
Onde velejadores exaustos de viagens já redescobertas,
Irremediavelmente desencantantes,
Enfadonhamente sufocantes, castrantes,
Chegavam extasiados, deslumbrados com descobrimentos nunca avistados
E há tanto já julgados perdidos nos anos que se sucedem conformados.
Recordo que me bradavam com avidez palavras que só eu as ouvia, as sentia, as conhecia …
Ora mais nítidas, empolgadas de genuínos poemas de amor,
Ora mais desvanecidas, timidamente esbatidas pelo rossio da dor vida.
Trazidas entre as vagas velozes de segundos e o aroma intenso e duradouro da brisa,
Nas vidas que as vagas as queriam unir, entranharam-se como a maresia!
Quedado, tal como eu nas rochas basálticas da ilha, detinha-se.
E fixava o olhar na fluidez deste mar sem formas,
A contrastar com a firmeza das rochas que me acolhiam.
Penetrados por este sedutor olhar nascido sem formas, sem voz,
Contagiados por sentires marcados bem de dentro de nós,
Amparados por nossos braços enlaçados,
Firmámos sentimentos, realidades, fragilidades…
Sentada nas rochas basálticas da ilha,
Senti a frieza gélida, cortante, que lhe impregnaram
De confusão e silêncio sem explanação que a razão nem descortina!
Sinto o coração, a alma e o corpo da ilha…
A ilha é pura!
Expressa-se sempre que a vontade o dita.
Não se tolhe, não se reprime.
Assim…
Estendo-me em veleiros sólidos feitos de certeza,
Abarco quem me cobre com laços de firmeza,
Beijo a alma de quem a tem na boca,
Sinto o corpo de quem tudo quer comunicar, em cada instante,
De quem sabe que só assim se vive!
Navego em outros mares…
Em mares bem fundos,
Em mares com infinito!

Graciete Belo Maciel

segunda-feira, 28 de junho de 2010

PINTURA E POESIA


Pintura: Graciete Belo Maciel

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Quis o mar...


Quis o mar toda a noite chamar-me
Em prementes e derradeiros brados
Pra nas voltas da maré enrolar-me
E deixar-me onde parti!

Fiz-me esquecida, mar meu
Da largura de teus horizontes
Da fundura do teu poder, do teu apogeu!
Embaída de pequenez neguei teu aventurar.

Apanha-me exactamente no momento em que parti ...
Andar perdida em ti é soberba almejada!
Entro em ti ...
Que importa onde chegarei?!
Quero é que me leves!

Graciete Belo Maciel

domingo, 9 de maio de 2010

Ditos de Amor


Ditos de amor sentidos!
Quem não os teve?
Também os tive em meu tempo.
No momento são tão reais
No outro já não são mais!

Juras de amor eternas!
Quem não as teve?
Também as tive em meu tempo.
No momento são desmedidos sentimentos
No outro a traição aos juramentos!

O medo de no amor entrar!
Quem não teve?
Também tive em meu tempo.
No momento desfaleci perante tal amor galopante
No outro vi matar o sentir de rompante!

Graciete Belo Maciel

domingo, 25 de abril de 2010

E Depois do Adeus

Para mim, há sempre uma canção que marcou determinado momento da minha vida, para além de outras sensações ou recordações.

Para Portugal também houve. Há 36 anos, neste dia, a canção “E Depois do Adeus” conferiu o sinal de que este país estava pronto para ter um “Depois”. Assinalou, de forma indelével, um grande momento da História de Portugal. E esta canção será sempre assim recordada.

Para além disso, e porque gosto da mesma, independentemente do seu significado histórico, não quero deixar de lembrar grandes poetas, como o Ary dos Santos, o José Nisa, o Zeca Afonso, e outros, que compuseram letras de uma qualidade inquestionável.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Quando a noite...


Quando a noite se deitar
e entre nós ficar,
por cada beijo nosso uma estrela se acenderá.
Todo o firmamento se iluminará
numa explosão nunca antes avistada!
Será a noite mais clara de todas as noites,
das que esperando, quase desesperando,
no acontecer nascerá!
E por entre as janelas das noites perdidas,
cai o crepúsculo das vidas,
as sombras que as atormentaram,
por entre o mundo que espreitando
se extasia pela transparência que emanam!
E quando a noite cansada tenuemente se levantar,
cai em nós o dia em clarão de verdades e vontades adormecidas,
ditando as noites que entre nós ficarão!
E as noites mais claras de todas as noites nunca findarão!
E entre nós, deitar-se-ão!

Graciete Belo Maciel

terça-feira, 30 de março de 2010

Aqui...


Aqui, onde a beleza da Natureza, confinada entre a terra e o mar, exibindo-se em majestoso esplendor, encontra-se a dúvida, a incerteza ou a razão de ambas das faces: a relatividade!
Aqui, onde registei este instante, sentimo-nos deliciosamente engolidos pela Natureza na sua plenitude, onde se degusta e se absorve o seu apogeu, em todas as suas vertentes: o silêncio, os sons, as cores, os cheiros, a beleza, a serenidade ... e as marcas da força da sua raiva!
Aqui, onde se retrata a Fajã Grande, na ilha das Flores, o local mais ocidental da Europa, experimenta-se e vive-se a relatividade dos factos: aqui, a Europa começa ou acaba!

sexta-feira, 26 de março de 2010

Sensações


Vagueei demoradamente na tua incrível sensibilidade e achei-te excepcional.
Extraordinariamente excepcional por seres capaz de assumi-la.
Senti, claramente, que entraste em mim.
E fizeste-o da forma mais difícil de o fazer!
Se tão escassos foram os instantes da minha vida que contigo partilhei,
Se foram feitos de palavras ditas,
De palavras que não precisam de ser ditas,
De momentos feitos de silêncio,
De pensamentos transcritos,
Como é possível este sentir?
Mas sinto ... Sentimos ...
Sentimos para além do além!
Sentimos que sentimos para além de hoje, até sempre!
É a vida a dizer que as nossas linhas paralelas um dia se hão-de cruzar!

Graciete Belo Maciel

segunda-feira, 15 de março de 2010

Céu imenso...


Céu imenso, obscuro,
quebrado por brilhos peneirados,
por olhares penetrantes em devaneios ansiados.
Céu imenso que te conheço já de cor!
Cobres o meu olhar,
cobres o meu sonhar,
cobres o nosso mundo!
Meu olhar não o estendes,
nem a luz de meus olhos reflectes.
Difunde-se na noite,
dilui-se na escuridão
espalha-se no nada!
Nada de mim em ti se propaga.
Nada de mim a ti chega.
És tu o meu céu!
Céu imenso alastrado na imensidão do nada.
De nada me vale saber que existes!
De nada te vale o meu olhar!

Graciete Belo Maciel

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Águas da incerteza

Não senti que nelas entrasse...
Dei por mim já afundada nas águas da incerteza.
Tão subtilmente me invadiram...
E...para destino nenhum me levaram!
Arrastaram-me para o fundo do nada,
apunhalando-me o que tinha por certo!
Não vejo águas límpidas sem fim à vista.
Sinto um redemoinho que me força a parar
e não me deixa avançar.
Será que o meu mar não me quer trair?
Será que o meu mar sabe que estás como eu?
Comigo...para sempre!
Também mergulhado nas águas da incerteza,
nas mesmas que um dia nos galgaram!

Graciete Belo Maciel

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Corpo Nu...


Braços abertos...
Braços sem fim... sem termo!
Braços que se estendem ao acaso
Desvelados, ousados, alados...
Prologam-se ao encontro da fusão, sem prazo!
Corpo nu...
Corpo despido, despojado...
Corpo coberto de sensibilidade
Corpo nu movido a felicidade.
Mente vestida de sentir pincelada na tela, nitidamente!
Corpo nu... denunciador da alma que encobre, claramente!

Graciete Belo Maciel

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Sem nós...


O nevoeiro que sobre nós pairou,
não nos deixou avistar.
Proibiu-nos de aproximar!
Do nosso intento se apoderou
e roubou-nos a valia mais sumptuosa!
Que dor esta que restou,
aguda, penosa, sinuosa...
que contorce os pensares de pesares e dor,
que enegrece o tapume do tempo posterior
e foge constantemente para o tempo anterior?

Ah amor...
Quando sentimos os sons do mar
e escutámos todas as notas,
os dizeres que as acompanhavam,
respirámos a pureza de tamanha sincronia!
Conjugámos os escritos em igual tempo verbal
e ecoámos em sintonia a nossa melodia!
De nós se cercou ávido furação
de tão cruel devastação
que se encheu de massas de ar
pra chamar a si o nosso amar!
Guardámos a nossa pauta
e... fizemos uma pausa!

Ah céus abertos, secretos dias!
Sem nós só há noite,
almas negras que vagueiam na escuridão,
corpos moribundos que padecem comiseração,
vidas alienadas sem direcção,
corações famintos de emoção!
Sem nós não há o pulsar sincronizado da paixão,
os dias que o sangue corre veloz
ao sabor da nossa voz.

Oiço o mar a murmurar!
Neste percurso de trazer e levar,
nossas melodias balançam silenciosas neste mar feroz.
Sem nós calou-se a voz!
Morreram almas que se encontraram!
E ficou o mar a bramir
este luto sem fim, esta sofrida dor
por deste mundo partir,
o amor... o amor!

Graciete Belo Maciel

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Campo de Batalha


Armas morteiras
na mira do amor certeiras.
Balas que disparam sem saberem
que atingem quereres sem quererem
neste mar imenso condenado à ondulação
com vagas de descomunal dimensão
que assolam desmesurado coração
e consomem desmedida paixão!

Lutam rios com oceanos.
Batalham dias com anos.
Gladiam-se sonhos com vidas reais.
Combatem soldados com generais!
Sobrevivem... amores e desamores!
Do icerberg, o visível dissimula o fortalecido invisível.
Mas... vence a hipocrisia que se mais avoluma, falhada
conquista no viciado campo de batalha!

E batem-se palmas de vencedores, iludidas
a camuflarem verdades anestesiadas
que o tempo as ditou mais irreais que as derrotas no campo estendidas.
Mais uma ilha submersa que se forma sem plataforma!
E o guerreiro exausto de vitórias sem forma
olha o sangue que lhe está agarrado
seguindo o rasto da dor de ser vencedor desta batalha.
Seu sangue ligado ficou ao chão derrotado!

Graciete Belo Maciel

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

CICLOS DA VIDA - Paulo Coelho

Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final.
Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.
Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos, não importa o nome que damos.
O que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.
Foi despedido do trabalho?
Terminou uma relação?
Deixou a casa dos pais?
Partiu para viver em outro país?
A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?
Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu.
Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó.
Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seu marido ou sua esposa, seus amigos, seus filhos, sua irmã...
Todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.
Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem connosco.
O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.
As coisas passam e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora.
Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem.
Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.
Deixar ir embora.
Soltar.
Desprender-se.
Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas.
Portanto, às vezes ganhamos e às vezes perdemos.
Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu génio, que entendam seu amor.
Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando e nada mais.
Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceites, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal".
Antes de começar um capítulo novo é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará.
Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa...
Nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.
Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.

Encerrando ciclos.
Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba.
Mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida.
Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira.
Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é.

Acerte em tudo que puder acertar. Mas, não se torture com seus erros.

Paulo Coelho

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Enquanto a Brisa...


Enquanto a brisa trouxer teus beijos
escapados e perdidos do destino
a pairarem na neblina que me persegue,
distantes dos desejos,
longe da vontade da vida,
e sentir no ar seu desatino,
abraça-me com a mente,
forte, fortemente!
Teus abraços eternos,
trepadeira permanente
que a mim se agarra afincadamente
às paredes sólidas dos instantes que nossos são,
às vozes que de nós correm velozes,
sucumbindo aos gritos das vidas que apenas se cumprem!
Que a aragem silenciosa que na noite se abateu
não tombe tão sentida trepadeira que cresceu
presa de fragilidades assentes na âncora mais profunda!
Abraça-me com a mente,
forte, fortemente,
enquanto na brisa teus beijos a mim não chegam,
enquanto a brisa trouxer a tranquilidade efémera
e não poder entrar na serenidade eterna,
nas cinzas do meu corpo!

Graciete Belo Maciel

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Eu Sabia....



Eu sabia que o anseio do nosso encontro,
no tempo desperdiçado, perdido,
tinha o rumo já traçado, bem definido
e...de ti desconhecido!

Eu sabia que o esperado encontro,
depois de meus olhos te verem,
seria um desencontro...
Um encontro adiado...
No tempo indeterminado!

Graciete Belo Maciel

sábado, 16 de janeiro de 2010

CAVALO Á SOLTA – Ary dos Santos



CAVALO À SOLTA

Minha laranja amarga e doce
meu poema
feito de gomos de saudade
minha pena
pesada e leve
secreta e pura
minha passagem para o breve
breve instante da loucura.

Minha ousadia
meu galope
minha rédea
meu potro doido
minha chama
minha réstia
de luz intensa
de voz aberta
minha denúncia do que pensa
do que sente a gente certa.

Em ti respiro
em ti eu provo
por ti consigo
esta força que de novo
em ti persigo
em ti percorro
cavalo à solta
pela margem do teu corpo.

Minha alegria
minha amargura
minha coragem de correr contra a ternura.

Minha laranja amarga e doce
minha espada
poema feito de dois gumes
tudo ou nada
por ti renego
por ti aceito
este corcel que não sossego
à desfilada no peito meu.

Por isso digo
canção castigo
amêndoa travo corpo alma amante e amigo
por isso canto
por isso digo
alpendre casa cama arca do meu trigo.

Meu desafio
minha aventura
minha coragem de correr contra a ternura.

José Carlos Ary dos Santos

GAIVOTA - Alexandre O'Neill



GAIVOTA

Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse,
nesse céu onde o olhar
é uma asa que não voa,
esmorece e cai no mar.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito meu coração.

Se um português marinheiro,
dos sete mares andarilho,
fosse quem sabe o primeiro
a contar-me o que inventasse,
se um olhar de novo brilho
no meu olhar se enlaçasse.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito meu coração.

Se ao dizer adeus à vida
as aves todas do céu,
me dessem na despedida
o teu olhar derradeiro,
esse olhar que era só teu,
amor que foste o primeiro.

Que perfeito coração
no meu peito morreria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde perfeito
bateu meu coração.

Alexandre O'Neill

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Teus olhos, meus olhos...








Teus olhos meus olhos galgaram!
Inebriei instantes de êxtase eternos que se prologaram
e se quedaram. O relógio parou. Não vacilei! Fiquei!
E embebidos neste olhar uno, sincronizado, demorado...
Deslumbrados de encantamento neste mirar denunciador,
completámos tal quimera real de fulgor,
penetrante brilho de amor
a ditar palavras mudas saídas das estranhas,
do interior de nossas ilhas vulcânicas que abalaram sem previsão!
Teus olhos em meus olhos, tão grande alumiação!
Ó meu viajante que à ilha chegaste em vagas de maresia
trazendo ao meu mar a calmaria!
Nossos olhos claros, transparentes, verdes...
Verdes...acaso dos acasos que o acaso os ligou!
Abriram uma cratera verdejante de tamanha dimensão!

Graciete Belo Maciel

domingo, 3 de janeiro de 2010

Ano Novo com este olhar...

Propositadamente quero começar este Novo Ano, desejando que se olhe as diferenças apenas como são: diversidade!

Desta forma, a Felicidade será mais abrangente, sem dúvida alguma.



Se nossos olhos virem a perfeição, que a vejam em todos nós.
Se nosso olhos virem a imperfeição, que a vejam em todos nós!
Não conheço ninguém que seja completo, perfeito!