terça-feira, 7 de julho de 2009

À borda de ti...

Por mais ajuda que te suplique,
por mais que te queira somente para acalentar a minha dor,
que me podes tu fazer?
Tão pouco neste imensurável oceano de tanto querer!...
Tudo é mais forte que as palavras que me dizes!
Se no momento conforta o meu sentir,
no outro, já não as ouço.
Perdidas ficam neste oceano profundo e sem fim,
emergindo em instantes entrelaçadas entre todas as outras,
disfarçadas de adjectivos, extraviadas de sentido,
bradando o mesmo que todas as outras,
assim mesmo, tal como as dizes!
Envolve-as em razões, imbuídas de emoções
disseminando tantas contradições!...
Assim te sossegaram desta maresia,
querendo-me amainar esta revolta,
pedindo a calmaria da maré vazia,
deixando-me na inquietude da lua nova,
depois de esvaziar tudo o que sentimos
e de selarmos os nossos desejos com beijos.
E eu ... à borda d’água ... à borda de ti!
Em ti fico novamente,
com a mente a escapar-se sorrateiramente,
cruelmente alheia entre os ditos e os sentires!
Ah, triste mente a trair-me tristemente,
abalando minh’alma, meu corpo!
E de novo estamos nós!
Entre o oceano e a terra,
entre o amar e o querer,
entre o tudo e o nada!

Graciete Belo Maciel

2 comentários:

  1. Quero declarar a minha inequívoca preferência por este poema. Peço perdão à autora por este egoísmo tão cruelmente assumido. Mas se há pessoas, filmes, livros, cidades e momentos que ficam dentro de nós, com residência fixa, enquanto vivemos, também há poemas que analisam e desnudam completamente o nosso ser e o nosso sentir. O teu poema fez-me isso. E despido fiquei, frágil, muito frágil, entre o "oceano e a terra" e "entre o tudo e o nada". MBM

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  2. MBM,
    É com muito prazer que recebo a tua visita!
    Cada um de nós faz a leitura ou a interpretação dos escritos ou ditos "poemas", muito para além das palavras que os mesmos ditam. Haverá sempre algumas conjugações de palavras e frases que nos tocam mais profundamente, por porventura porque nos reportam a aspectos mais marcantes das nossas vivências. Mas, como dizes, e muito sabiamente, assim "...há pessoas, filmes, livros, cidades e momentos que ficam dentro de nós, com residência fixa...". Apenas acrescentaria a música, porque sei que também reside em ti!

    Quem escreve um comentário como tu o fizeste, como tu tão bem o sabes fazer, digo-te, com sinceridade, que é para mim um poema!
    Espero que, para além da tua visita, enriqueças este blogue com os teus comentários.

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