domingo, 11 de julho de 2010

Veleiros que passam ou ficam


Sentada nas rochas basálticas da ilha
Sinto o calor que emanam,
Invadindo lentamente todo o meu ser
Que velozmente me deflecte o percorrer do meu pensar
Em veleiros que fui avistando em mar sereno a terra chegar.
Olho bem fundo nos olhos deste mar
Num olhar cúmplice de tamanha intimidade
Conquistado na privacidade dos dizeres,
Nos tempos que velejavam avidamente bem junto aos sentires
Em destemidos veleiros aventureiros
Que atracavam vindos do outro lado do mar,
De terras distantes que nunca pisei!
Alguns houve que os vi, um a um, a abalroarem-se
Em baixios rudes de míseros desfechos, sem fidalguia de navegar
Nas águas transparentes que abarcam o corpo da ilha, a alma da ilha.
Afundarem-se transbordando muito de nada em traçado jazigo!
Outros houve que se fizeram ao mar na inquietude de um porto de abrigo,
Cansados de terras inférteis que sopram ventos de pó
Que enlaçam seu destino construindo teias de nó em nó!
Inesperadamente marcadas nos mapas do destino sem previsão
Surgem rotas assinaladas pelo instituto sem explicação,
Onde velejadores exaustos de viagens já redescobertas,
Irremediavelmente desencantantes,
Enfadonhamente sufocantes, castrantes,
Chegavam extasiados, deslumbrados com descobrimentos nunca avistados
E há tanto já julgados perdidos nos anos que se sucedem conformados.
Recordo que me bradavam com avidez palavras que só eu as ouvia, as sentia, as conhecia …
Ora mais nítidas, empolgadas de genuínos poemas de amor,
Ora mais desvanecidas, timidamente esbatidas pelo rossio da dor vida.
Trazidas entre as vagas velozes de segundos e o aroma intenso e duradouro da brisa,
Nas vidas que as vagas as queriam unir, entranharam-se como a maresia!
Quedado, tal como eu nas rochas basálticas da ilha, detinha-se.
E fixava o olhar na fluidez deste mar sem formas,
A contrastar com a firmeza das rochas que me acolhiam.
Penetrados por este sedutor olhar nascido sem formas, sem voz,
Contagiados por sentires marcados bem de dentro de nós,
Amparados por nossos braços enlaçados,
Firmámos sentimentos, realidades, fragilidades…
Sentada nas rochas basálticas da ilha,
Senti a frieza gélida, cortante, que lhe impregnaram
De confusão e silêncio sem explanação que a razão nem descortina!
Sinto o coração, a alma e o corpo da ilha…
A ilha é pura!
Expressa-se sempre que a vontade o dita.
Não se tolhe, não se reprime.
Assim…
Estendo-me em veleiros sólidos feitos de certeza,
Abarco quem me cobre com laços de firmeza,
Beijo a alma de quem a tem na boca,
Sinto o corpo de quem tudo quer comunicar, em cada instante,
De quem sabe que só assim se vive!
Navego em outros mares…
Em mares bem fundos,
Em mares com infinito!

Graciete Belo Maciel

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